Eu já sabia, antes de começar a leitura, que este seria um livro muito bom! Pesado, forte, mas bom. Primeiro pelo currículo da Daniela Arbex, jornalista super competente e cuidadosa, depois porque o prefácio é da Eliane Brum e eu adoro a escrita dela (se ela indica, só pode ser ótimo!).
Deixa conta antes uma coisa para vocês. Não sei se todos sabem, mas sou psicóloga e trabalho com saúde mental há mais 23 anos. Psiquiatria sempre me fascinou e me assustou, aliás assusta muita gente, afinal o limite entre a sanidade e a loucura é muito tênue. Na faculdade gostava tanto das aulas de psicopatologia e me destaquei tanto que fui convidada para ser monitora no hospital psiquiátrico. Amava aquelas aulas de monitoria e durante um ano realizei esta monitoria com muito carinho e atenção. Presenciei muitos casos tristes, mas nenhum deles poderia se comparar aos narrados pela Daniela neste livro assombroso.
O hospital conhecido como Colônia, na cidade de Barbacena foi cenário de milhares de casos trágicos, de negligência, de descasos, de torturas e até de tráficos de cadáveres.
Apesar do tema pesado, dos casos horripilantes, a autora encontrou um tom maravilhoso para narrar este livro. Com coragem e determinação, apresenta fatos, entrevistas e fotos que compõem um verdadeiro dossiê que se transforma na memória de um período tão triste e vergonhoso.
Edição primorosa da Geração Editorial. Capa e fotos sensacionais, ótima diagramação, letra muito confortável.
Recomendo muito esta leitura.
Sinopse do Skoob:
Neste livro-reportagem fundamental, a premiada jornalista Daniela Arbex resgata do esquecimento um dos capítulos mais macabros da nossa história: a barbárie e a desumanidade praticadas, durante a maior parte do século XX, no maior hospício do Brasil, conhecido por Colônia, situado na cidade mineira de Barbacena. Ao fazê-lo, a autora traz à luz um genocídio cometido, sistematicamente, pelo Estado brasileiro, com a conivência de médicos, funcionários e também da população, pois nenhuma violação dos direitos humanos mais básicos se sustenta por tanto tempo sem a omissão da sociedade.
Pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros da Colônia. Em sua maioria, haviam sido internadas à força. Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelava ou que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Eram meninas grávidas violentadas por seus patrões, esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento, homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo menos 33 eram crianças.

Daniela Arbex é uma das jornalistas do Brasil mais premiadas de sua geração. Repórter especial do jornal Tribuna de Minas há 18 anos, tem no currículo mais de 20 prêmios nacionais e internacionais, entre eles três prêmios Esso, o mais recente recebido em 2012 com a série “Holocausto brasileiro”, dois prêmios Vladimir Herzog (menção honrosa), o Knight International Journalism Award, entregue nos Estados Unidos (2010), e o prêmio IPYS de Melhor Investigação Jornalística da América Latina e Caribe (Transparência Internacional e Instituto Prensa y Sociedad), recebido por ela em 2009, quando foi a vencedora, e 2012 (menção honrosa). Em 2002, ela foi premiada na Europa com o Natali Prize (menção honrosa).
O livro mais recente da Daniela, Cova 312, já está aqui, na fila esperando a leitura:
Este livro cumpre o desafio de janeiro do Desafio I Dare You 2016, que é ler um livro assustador